A diarista Amanda de Souza Dias engravidou da primeira filha ainda na adolescência, aos 15 anos. Hoje, aos 29, cria quatro crianças, de 3 a 14 anos, em Senador Canedo. Embora tenha apoio do marido, a família passa por dificuldades e, às vezes, mal tem o que comer. Ela fez uma laqueadura no Hospital Municipal de Hidrolândia, em dezembro de 2021. Mas há cerca de dois meses foi surpreendida com a notícia de que está grávida pela quinta vez. Desde então, busca respostas para a cirurgia mal sucedida.
Ao g1, Amanda conta que passou por quatro cesáreas e que, ao ver a dificuldade da família, uma amiga sugeriu que ela fizesse a laqueadura pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ela aceitou e, em poucos dias, conseguiu a vaga para cirurgia. Ela diz que fez exames de sangue, testes de Covid-19 e que o procedimento foi realizado com sucesso na unidade onde a amiga trabalha.
Na época, a diarista assinou um termo de responsabilidade, mas afirma que não foi orientada pelo médico de que o procedimento não tinha 100% de eficácia. Portanto, não sabia do risco de engravidar de novo após a operação.
“Ninguém nunca falou isso pra mim! Eu e meu esposo assinamos um papel para autorizar a cirurgia, porque somos casados. Mas na época só me disseram que eu ia fazer a cirurgia numa quarta-feira. Na segunda fiz esses exames, na terça entreguei e no dia seguinte já fiz a cirurgia”, lembra Amanda.
Após a descoberta da nova gestação, Amanda procurou o hospital de Hidrolândia para obter documentos e conversar com o cirurgião. Ela diz que, durante a reunião, o médico explicou a ela que “a trompa que foi retirada poderia reconstituir”.
Os documentos que Amanda conseguiu, em sua maioria, constatam somente que ela esteve na unidade no mês de julho, quando soube da gravidez. Entre os comprovantes de que ela fez a cirurgia no hospital está um prontuário hospitalar e um atestado.
Em nota, a secretária de Saúde e Saneamento de Hidrolândia, Girlaine Araújo Silva, confirma que Amanda foi submetida a uma laqueadura no Hospital Municipal da cidade. Diz ainda que, antes do procedimento, o cirurgião orientou a paciente sobre a possibilidade de reconstituição da trompa “devido à sua condição de saúde”
“Antes da cirurgia ela assinou um termo de consentimento que alertava sobre a não garantia de 100% de eficácia do método”, diz o comunicado. Segundo a secretária, as chances de falha de uma laqueadura são de aproximadamente 0,41%.
Sobre o encontro, a nota afirma que foi oferecida a Amanda a assistência integral no acompanhamento do pré-natal, mas que o processo foi dificultado pelo fato da família não morar no município e sim em Senador Canedo.
Dia de amanhã
Amanda diz que “ama os filhos mais que tudo na vida”, mas que desde que recebeu a notícia da nova gravidez, teme pelo futuro dela e dos filhos. Isso porque, além das dificuldades financeiras, foi informada pelos médicos que corre risco de eclâmpsia, problema de saúde que pode ocasionar desprendimento da placenta – em que bebê pode nascer prematuro.
A gente que é mãe sabe a tristeza que é ver o filho pedir uma coisa e não poder dar. Me bate um desespero porque eu tenho outros filhos além dessa que estou esperando, e se eu morrer no parto? Peço a Deus, que não deixe minha filha nascer sem eu ter condições de dar a ela uma vida digna. Sinto vergonha, muita vergonha”, desabafa.
Além disso, Amanda lida com depressão e crises de ansiedade. Ela faz acompanhamento com uma psiquiatra pelo Centros de Atenção Psicossocial (Caps), em Senador Canedo.
Por conta do risco de desprendimento da placenta, Amanda precisou parar de trabalhar. O que possibilita que a família sobreviva é o dinheiro do trabalho do marido, na coleta de lixo, e o auxílio de R$ 900 que recebe do Bolsa Família.
Atualmente, toda a família vive em uma casa cedida por um parente. O local fica na periferia de Senador Canedo, distante de supermercados, escolas e trabalho. São dois quartos, um banheiro, sala e cozinha.
“Eu estou aceitando todo tipo de ajuda, com enxoval, com alimentos, dinheiro. Temos só um guarda-roupa pra todo mundo, minha filha dorme no chão. Tudo isso me dói muito. Se eu ganhasse uma beliche, que fosse, já me ajudaria para tirar minha filha do chão”, afirma.
Fonte: G1

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