Um novo dia de combinação de baixas na Bolsa de Chicago – de mais de 1,5% – e de recuo do dólar frente ao real conferiram baixas aos preços da soja também no mercado brasileiro nesta terça-feira (9). Segundo relatou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, os indicativos chegaram a perder até R$ 7,00 por saca em relação aos registros da semana passada, quando os mais elevados níveis para o ano comercial foram testados, tanto nos portos, quanto no mercado físico nacional. O dólar, no momento do fechamento desta reportagem, perdia 1,05% para ser cotado a R$ 5,42.

O movimento, naturalmente, esfriou os negócios com a soja no Brasil, tanto para o restante da safra 2023/24 ainda por ser negociada, quanto para a safra 2024/25. E o alerta de Brandalizze se dá, inclusive, para as relações de troca, as quais também ficaram comprometidas com o andamento das cotações da oleaginosa, com o câmbio e com o movimento dos fertilizantes, por exemplo, entre os insumos.

“Estamos há dois meses do plantio e o produtor, certamente, já perdeu o melhor momento dos fertilizantes. Ele já esteve lá embaixo, já caiu muito, e agora, de uns 60 dias para cá, começou a subir. A maioria das empresas de fertilizantes, no ano passado,  teve prejuízos muito grandes com produtos que seguraram. Importaram muito, tinham estoques muito grandes no final do ano e o mercado despencou mesmo. E agora, importaram menos, comprando da mão para boca, para não sobrar grandes estoques, o que vai fazer com que haja uma oferta limitada de alguns fertilizantes daqui pra frente”, explica o consultor.

Dessa forma, com as relações de troca corroídas, as oportunidades e opções de negócios também ficam mais limitadas e, por isso, precisam ser monitoradas. “No mês de agosto, quem for comprar por último, é provável que pague mais caro  e vai precisar de mais soja para pagar os fertilizantes. E a soja caiu nos últimos dias, e é possível que caia um pouco mais. Mas, esperar para frente pode ser que tenha um valor ainda menor (da soja), porque se o dólar cair, a soja também cai. Não dá pra esperar o tempo passar porque pode enfrentar dificuldades”, diz.

No mercado de balcão, de acordo com um levantamento da Brandalizze Consulting, as referências para esta terça-feira testaram um intervalo de R$ 120,00 a R$ 127,00 por saca, a depender da região, com preços até R$ 5,00 por saca mais baixos em relação aos melhores momentos da semana passada. Nos portos, os indicativos também cederam, voltando a patamares de R$ 138,00 a R$ 140,00, com baixas de até R$ 7,00 na comparação semanal. No mercado de lotes, perdas de até R$ 5,00 por saca.

Para Brandalizze, o fôlego mais consistente entre os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago virá apenas entre janeiro e fevereiro, quando o pico da chegada da oferta americana já tiver passado. Já para os preços no Brasil, em reais, somente a partir de maio.

“Entre janeiro e fevereiro, o mercado volta a melhorar, tanto Chicago, quanto o prêmio. Se olharmos os prêmios a partir de maio dos embarques brasileiros. Eu continuo vendo que para o produtor o pior momento vai ser entre março e abril, e depois em maio em diante começa a melhorar. A princípio, o produtor tem que se preparar para este momento mais difícil”, afirma o especialista.

No entanto, Brandalizze acredita que a nova safra brasileira de soja, para o produtor que conseguir boas médias de produtividade, não será um ano de prejuízos. “Talvez ele não tenha aquele lucro que ele imagina, mas se ele fizer uma boa safra não vai ter prejuízo. Nós estamos em uma situação, eu acredito, melhor do que a dos americanos”.

BOLSA DE CHICAGO

Na Bolsa de Chicago, as perdas foram mais agressivas – novamente – nos valores mais alongados. O agostou fechou o dia com US$ 11,31 por bushel e perdendo 17,75 pontos, enquanto o novembro – referência para a safra americana – com US$ 10,80 e queda de 19,50 pontos.

Segundo explicam analistas e consultores, o mercado continua a refletir as boas perspectivas sobre a nova safra americana, em especial depois da revisão do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) sobre a condição das lavouras norte-americanas, que subiu de 67% para 68% na semana para a classificação de campos em boas ou excelentes condições. No ano passado, este número era de 50%.

“É normal acontecer essa corrida baixista para o investidor ver até onde pode cair. Com esse percentual das lavouras, os EUA podem colher mais de 121 milhões de toneladas, no ano passado foram 113 milhões. E isso está servindo de argumento para o mercado apostar na baixa”, explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting. “É um efeito manada”.

O clima previsto para os próximos dias no Meio-Oeste americano também traz condições favoráveis para a continuidade do desenvolvimento da safra 2024/25, o que mantém os mercados pressionados. Além disso, a demanda lenta pela soja americana também pesa.

“O modelo GFS, gerado nessa manhã, resumidamente indica, até dia 11, volumes totais de até 75 mm no para áreas que incluem o sul de Michigan, noroeste de Indiana, centro de Illinois, sudeste do Missouri e norte de Arkansas. Nos próximos 10 dias, os acumulados de chuva nessas regiões mencionadas podem intensificar-se, alcançando até 100 mm, com previsão de alcançar Ohio, sul de Indiana e parte do sudeste americano”, informa o grupo Labhoro.

Complementando a pressão sobre as cotações vem aind a despencada do óleo de soja negociado na Bolsa de Chicago. Os futuros do derivado perdem mais de 4% entre as posições mais negociadas, sentindo perdas também do óleo de palma, bem como dos futuros do petróleo, os quais recuam tanto no WTI, quanto no brent, ambos perdendo mais de 1%.

 

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