Tem goiano brilhando no carnaval do Rio de Janeiro. Com direito a muito samba no pé, mais de dois metros de altura e um sorriso carnavalesco, é difícil não ver e admirar o John Avelino. De Goiânia, John lutou contra diversos preconceitos e, hoje, enche a boca de orgulho para dizer: “sou um gigante do samba”.

O carnaval é um festival que começou no cristianismo devido à relação com a Páscoa e com a Quaresma e que caiu nos gosto dos brasileiros, que se tornaram famosos pela folia. O que era para ser um período de festa para os cristãos, hoje, ganhou outro significado: “é um espaço democrático”, destaca Avelino.

Paixão desde criança

Um dos carnavais mais famosos do Brasil é o do Rio de Janeiro, que tem o Sambódromo da Marquês de Sapucaí, onde diversas escolas de samba desfilam e competem pelo título de campeã do carnaval. Este momento é televisionado para todo o país e foi a partir dele que John se apaixonou pelo carnaval.

“Tenho uma memória afetiva de quando eu era pequeno e assistia o desfile. Eu ficava vidrado na TV assistindo, era incrível, eu amava”, disse.

John tem 33 anos, nasceu em Goiânia e trabalha como maquiador. Ele lamenta que Goiás não tenha uma cultura carnavalesca como a do Rio de Janeiro, mas destaca que isso nunca foi uma barreira para ele. Em 2001, a Caprichosos de Pilares homenageou nosso estado no desfile e encantou John.

John Avelino é rei de bateria no carnaval do Rio de Janeiro - Goiás — Foto: Reprodução/Redes Sociais

“Foi uma virada de chave. Tive que aprender a cantar o samba enredo e fazer um trabalho para escola, então, o que já existia aflorou ainda mais”, lembra.

Com tanta paixão pelo carnaval, John realizou o sonho de assistir pessoalmente o desfile na Sapucaí, em 2010, quando se tornou maior de idade. “Na adolescência, eu passava a noite em claro assistindo e, depois de 2010, passei a ir todos os anos. É incrível, não sei nem explicar a sensação”, afirma.

Viralizou pelo samba no pé

De tanto assistir, John aprendeu a sambar e, segundo ele, nunca foi difícil. “Eu tenho facilidade para sambar”, diz orgulhoso. Em 2015, na Sapucaí, ele estava assistindo o desfile e sambando no meio da chuva, quando foi filmado por outra pessoa na arquibancada. O vídeo viralizou nas redes sociais.

“O vídeo chegou a mais de 2,5 milhões de visualizações, eu fiquei conhecido no mundo do samba e ganhei o título de muso da arquibancada”, conta.

Segundo o maquiador, a partir de 2015, as pessoas esperavam ver ele sambando na arquibancada e diziam que ele merecia estar desfilando junto com as escolas de samba. “Depois que o vídeo viralizou ficou aquela sensação de ‘poxa, o cara é tão apaixonado, samba tanto e deveria estar desfilando’”, afirma.

Convites para desfilar

John conta que, depois que o vídeo viralizou, ele passou a receber convites para desfilar junto com as escolas de samba. Em 2016, ela participou do desfile pela primeira vez como semi-destaque de alegoria pela Unidos da Tijuca. “Passar pela avenida, com aquela multidão te olhando é muita emoção, muita garra”, comemora.

Após essa primeira participação, John afirma que começou a chamar mais a atenção das escolas. Ele seguiu sendo semi-destaque de alegoria pela Unidos da Tijuca e, em 2018, a São Clemente o convidou para fazer uma performance especial de alegoria no carnaval de 2019, quando ele se tornou muso da escola.

“Nesse ano eu recebi o título de muso da escola, o que não existia e eu fui o primeiro, pois o posto de musas e rainhas são sempre mulheres”, explica.

John Avelino é rei de bateria no carnaval do Rio de Janeiro - Goiás — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Nos primeiros anos, John desfilou nos carros e, atualmente, desfila no chão. “A partir disso, as portas foram se abrindo mais”, ressalta. John se mudou há três anos para o Rio de Janeiro para participar mais dos ensaios e, com isso, conseguiu o posto de rei de bateria da Lins Imperial e da União de Jacarepaguá.

“O Zé Reinaldo e o David Brazil já foram reis e, apesar da resistência e do preconceito, isso abre portas para mais homens nesse posto”, disse.

Luta contra os preconceitos

John se orgulha de onde ele está agora e destaca que diversos preconceitos foram superados para alcançar o posto de rei de bateria. Questionado sobre essas lutas, o maquiador afirma que, primeiro, precisou superar o preconceito por ser goiano e não carioca, o que, segundo ele, foi muito difícil.

“Quando você não é criado dentro da escola, as pessoas te olham diferente e desmerecem o fato de eu estar todos os dias no ensaio por não ser carioca”, disse.

John Avelino é rei de bateria no carnaval do Rio de Janeiro - Goiás — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Após isso, veio a homofobia. Segundo ele, há uma resistência em colocar um homem gay no posto de rei de bateria. “A bateria é composta por 90% de homens que tocam e quebrar essa barreira é muito importante, pois abre portas para que mais homens desfilem em outros postos, como o rei”, afirma.

John destaca que não esconde a sexualidade e afirma que isso é um diferencial. “Eu sou rei, mas não perco a minha personalidade. Sou gay, minhas fantasias são ousadas e fio dental. Homens gays, afeminados ou não, merecem estar na avenida. As pessoas reconhecem meu amor pelo meu trabalho”, destaca.

O maquiador conta ainda que sofre com comentários racistas e machistas nas redes sociais, pois muitos dizem que ele está roubando o lugar de uma mulher. “A simpatia é muito importante, não estou roubando o lugar de ninguém, estou conquistando o meu espaço. O sol brilha para todos”, completa.

John Avelino é rei de bateria no carnaval do Rio de Janeiro - Goiás — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Carnaval 2024

No carnaval deste ano, John afirma que vai desfilar na Sapucaí como destaque de carro da Mangueira, rei de bateria da União de Jacarepaguá e muso da São Clemente. “Espero dar o meu melhor, a fantasia é pelada, estou em uma preparação muito intensa e a expectativa é a melhor”, finaliza.

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