Desde que veio ao mundo há 29 anos, a dançarina Eduarda Richelly Gama sabe que, de muitas maneiras, é encantadoramente especial. Alegre e extrovertida por natureza, vê o mundo colorido por meio da dança. No tablado, em um salão ou na avenida no Carnaval de rua, se torna rainha, uma das autoridades máximas do espetáculo.

Ao som da bateria, no ensaio da Escola de Samba Lua-Alá, em Goiânia, sente-se viva. O som do bumbo, surdo, repique e tamborim. Chacoalhando as emoções e fazendo-a enxergar o “tum-tum-tum” do coração. Eduarda vê aquilo que muitos não enxergam: a alegria em aproveitar cada minuto deste grande Carnaval chamado vida. E que ultrapassa fevereiro e março.

Eduarda descobriu aos 18 anos que tinha uma condição rara. “Nasci com retinose pigmentar que é uma distrofia ocular. As células do fundo do olho vão se rompendo aos poucos. É uma doença auto-imune. As células do meu corpo matam essas do olho. Quando eu chegar aos 30 anos eu não enxergarei mais nada. Hoje já está bem reduzida, menos de 5%”, descreve ao Mais Goiás.

Sua relação com a dança começou quando tinha 13 anos. Introvertida, buscou na arte uma forma de ver o mundo de maneira diferente. ”Eu até enxergava na época, mas muito reduzido. Entrei nesse universo e desde então não saí mais. É um lugar muito mágico”, destaca. O “universo” a levou ao movimento das quadrilhas juninas.

Ali, naquele movimento das danças de junho, virou rainha. Mas foi apenas agora, em 2024, que se tornou Rainha da Inclusão do Carnaval de rua. “Eu faço parte de um movimento de quadrilhas juninas há 16 anos em Goiás. Na escola de samba, será meu primeiro ano”, pontua.

“Eu sou deficiente visual e estou fazendo a inclusão em vários cenários da cultura. Hoje, estou dentro da escola de samba, trazendo minha essência e personalidade como dançarina e pessoa PCD. É muito gratificante”, descreve. “Eu optei por usar a palavra ‘inclusão’ para as pessoas entenderem que eu tenho alguma especificidade”, ressalta.

Em uma tentativa de diminuir as perdas da visão, Eduarda sempre usou óculos. Aos 9 anos teve um grave acidente doméstico que deu norte à condição. “Antes disso, eu usava óculos, mas a deficiência não era detectada”, pontuou. “O baque mesmo foi quando eu tinha 18 anos. Do dia para noite, eu tive uma perda agressiva e repentina na visão”, destaca.

Rainha da Inclusão, Eduarda quer inspirar outras pessoas. Multi-talentosa, a dançarina também estuda piano, canto e braille. Quer ensinar outras pessoas na sua condição que é possível viver com tudo que a vida dá – e as cores que nos proporcionam.

Pela dança, vê o mundo que ninguém enxerga e as cores que ninguém vê. “Quando eu estou dançando, eu esqueço da minha deficiência e foco no meu sentimento que transmito a minha alegria. No carnaval é um momento a mais que eu transmito o que eu sinto: a felicidade por estar dançando”.

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