O pastor Osório José Lopes Júnior, que era acusado de golpes milionários em fiéis, foi condenado a 27 anos de prisão. Durante o processo, ele dizia que os valores repassados a ele se tratavam de “empréstimos” e que precisaria de cerca de cinco meses para fazer os pagamentos. A decisão cabe recurso.

A decisão de 196 páginas foi emitida pela juíza Placidina Pires na última quinta-feira (7). O g1 tentou contato com a defesa de Osório por telefone àS 7h20 nesta quarta-feira (13), não teve retorno até a última atualização dessa reportagem. Apesar de ter sido condenado ao regime fechado, a magistrada permitiu que ele aguarde o trânsito em julgado do processo em liberdade. Osório chegou a ser preso em 2018 e foi preso novamente esse ano no Tocantins após uma operação da Polícia Civil.

Além de ter sido sentenciado à 27 anos de prisão, Osório deve pagar 117 dias-multa. Ele ainda teve os direitos políticos suspensos e também foi condenado a reparar os danos causados a nove vítimas, em valores também estabelecidos e que vão de R$ 8 mil a R$ 1,3 milhão. Ao todo, o valor das indenizações passa de R$ 2,6 milhões, além de juros e correção monetária desde maio de 2018.

Na mesma decisão, foram absolvidos o pastor Alencar Santos Buriti e o fiel Adilson Ney Lopes das acusações. Os dois foram denunciados pelos mesmos crimes que Osório: estelionato, lavagem de dinheiro e assossiação criminosa. A magistrada que justificou que as condutas dos dois, que consistiram em cooptar pessoas interessadas, angariar valores e repassar as quantias a Osório não apresentaram a aptidão necessária para a configuração dos crimes de estelionato relatados.

Pastor Osório José Lopes, de Goiás, suspeito de aplicar golpes — Foto: Reprodução/YouTube

Sentença

No documento da decisão que condenou Osório José Lopes Júnior, a juíza concluiu que ele agiu com “intenção de causar prejuízo às vítimas”, uma vez que, por meio de fraude, induziu e manteve as vítimas em erro com a “inequívoca finalidade de obter vantagem econômica ilícita.

A juíza pontuou que, durante, no decorrer das investigações, Osório José apresentou diversas versões “fantasiosas”. Entre elas, alegava que receberia valores bilionários oriundos de Títulos da Dívida Agrária (TDA’s), “que teria recebido em doação de um senhor rico para quem realizou orações”. Além disso, afirmava que o valor “investido” seria para pagar as custas do processo e as despesas com advogados para que os títulos fossem liberados.

Segundo os relatórios policiais, Osório ainda prometia pagar as pessoas que lhe “emprestaram” dinheiro com um valor muito acima do que havia sido desembolsado. Depois, Osório ainda disse que o dinheiro que ele tinha para receber viria de “títulos financeiros chamados “pet shiller” (e não TDA’s)”, mas disse que não poderia dizer o valor e nem dar informações sobre o processo de resgate. Segundo a magistrada, o pastor “não apresentou nenhuma prova de suas assertivas e sobre tais títulos”.

Já quanto aos demais denunciados, que foram absolvidos, a magistrada disse que eles “acreditaram na história contada e recontada por Osório” e que, por isso, passaram a “cooptar outras pessoas que pudessem “investir” e “ajudar” no processo para a liberação dos valores supostamente pertencentes” ao condenado. Além disso, a magistrada pontua que eles seriam “recompensados” após o resgate de tais valores.

No processo, Adilson Ney Lopes disse que ““aplicou sua vida inteira” nessa operação e que tinha plena convicção que o negócio era real e não se tratava de um golpe”. Já Alencar Santos Buriti “comprovou que firmou um contrato” com Osório, que diz que o condenado tinha diversos títulos de crédito e que os números e identificaçõesdos títulos seriam apresentados a Alencar assim que os pagamentos fossem operacionalizados, em razão do “pacto de sigilo” feito por Osório na operação.

Golpes em fiéis

Os crimes pelos quais o pastor Osório José responde judicialmente aconteceram em Goiás até o ano de 2018. No entanto, segundo a polícia, com a mudança dele para São Paulo, o religioso teria aplicado golpes em todos os estados do país. Veja abaixo informações sobre algumas denúncias divulgadas pela polícia:

  • Empresário de São Paulo denunciou que em 16 de março de 2020 assinou um contrato com Osório e pagou R$ 300 mil a ele;
  • Uma mulher procurou a polícia de Santana de Parnaíba, São Paulo, e denunciou que em outubro de 2017 pagou uma quantia em dinheiro para um funcionário do pastor;
  • Em 2014, Paulo Estevão, de Goianésia, denunciou que entregou a única casa, R$ 250 mil, para o grupo do pastor e recebeu um cheque de R$ 2 milhões, que nunca conseguiu descontar por ausência de fundos;
  • Alex, de Goianésia, conta também que perdeu uma casa e duas caminhonetes; ele ainda teria recebido um cheque no valor de R$ 250 mil, que não foi descontado por falta de fundos;
  • Uma vítima do Acre relatou que depositou R$ 600 na conta do pastor depois que ele saiu da prisão;
  • Uma mulher do Mato Grosso relatou que o marido dela depositou R$ 1 mil ao pastor;
  • Uma advogada de Goiânia denunciou que no início deste ano o pai dela perdeu cerca de R$ 6 mil para o pastor, ela registou o caso na polícia.

Conforme mostrou o Fantástico, o pastor Osório dispara quase que diariamente vídeos para atrair novas vítimas, direto de um condomínio de luxo em São Paulo. O retorno financeiro de quem entrou no suposto investimento estaria próximo e o pastor fala sobre o pagamento aos credores.

“Já tem ordens de um governo mundial sobre esse regimento financeiro determinando datas para finalizar. Isso eu estou dizendo e eu posso cair morto nessa mesa”, prometeu em um dos vídeos. Em outro vídeo divulgado nas redes sociais, o pastor explica de onde teria vindo toda a fortuna dele. O religioso relatou ainda que, em troca, teria recebido papéis que valeriam muito dinheiro. Que seriam a origem dos investimentos que tanto atraíam as vítimas.

“Em 2011, eu orei por um moço, um milionário do Brasil. Sabe o que é dinheiro? Não é um milhão, dois. É bilionário”, disse Osório.

Conforme a apuração da Polícia Civil, em 2018, cerca de 10 moradores prestaram queixa formal em Goianésia, mas a investigação aponta que foram pelo menos 30 vítimas na região. O delegado afirma que uma pessoa sozinha teve prejuízo de R$ 1,5 milhão.

Vítimas

Entre as vítimas do religioso está o eletricista Paulo Estrela que, em 2014, iludido por cifras milionárias, chegou a entregar a única casa que tinha, avaliada em R$ 250 mil. Em troca, ele recebeu um cheque de R$ 2,5 milhões, que nunca conseguiu descontar.

Conforme a apuração da Polícia Civil, em 2018, cerca de 10 moradores prestaram queixa formal em Goianésia, mas a investigação aponta que foram pelo menos 30 vítimas na região. O delegado afirma que uma pessoa sozinha teve prejuízo de R$ 1,5 milhão. Um empresário de São Paulo relatou que o valor total investido por ele na operação prometida pelo Osório ultrapassou R$ 300 mil. Ele contou que começou a cobrar Osório pelo dinheiro prometido.

Depois de muita cobrança, ele disse que conseguiu receber de volta R$ 90 mil e mais um carro importado que, ao voltar para casa, causou um grave acidente. O empresário ficou seis meses sem conseguir andar. O promotor de Justiça de Felipe Oltramari, contou que o acidente aconteceu em “condições misteriosas”. Na época, em nota, a defesa de Osório José Lopes disse que o carro capotou em razão de excesso de velocidade.

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